General Flores da
Cunha e o carteado “Farroupilha”
Flores da Cunha
talvez tenha sido o último caudilho gaúcho, termo que expressa bem a forma como
se conduziam os políticos do Rio Grande do Sul do final do século XIX e da
primeira década do século XX, em especial dos primeiros anos após a República.
José Antônio
Flores da Cunha foi oriundo da fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai,
numa época em que os fazendeiros, políticos e “coronéis” gaúchos atravessavam a
fronteira com total liberdade com os mais diversos propósitos: vender gado,
comprar armas, beber com as “chinas” (apelido dado às mulheres de profissão
difícil), bem como para fugir de determinado governo instaurado por políticos
de correntes políticas diversas das suas, como fez Flores quando da Revolução
de 1932 em que ficou ao lado dos constitucionalistas paulistas contra Getúlio
Vargas, mesmo tendo colaborado de forma decisiva para que Getúlio tomasse o
Catete em 1930.
Se formou
advogado, passou a atuar em Santana do Livramento, tendo inclusive dividido uma
banca de advogados com o grande Oswaldo Aranha, personalidade que depois viria
a se destacar no governo Getúlio, atuou também na polícia e logo se enlaçou com
a política local. Fez aliados e inimigos, mas o certo é que o general gostava de
jogos.
Acompanhava o
turfe, gastava dinheiro nas roletas da República Oriental, e enfrentava todos
os tipos de adversários em mesas de carteado. Porém, certa feita, o general
estava perdendo nas cartas, e como qualquer jogador compulsivo, estava se irritando
com a situação, mas não deixou por menos, reuniu um punhado de cartas descombinadas
jogou-as à mesa e gritou:
- FARROUPILHA!
Os demais
jogadores não entenderam nada e ficaram atônitos vendo o general reunir o
dinheiro que estava em cima da mesa ao mesmo tempo que justificava que aquela
era uma jogada especial e que lhe deu a vitória na ocasião.
O jogo seguiu e a
sorte do general não mudou. Continuava com uma séria de mãos ruins, sem
conseguir ganhar nenhuma rodada, porém para os demais o jogo se complicou também,
foi quando um dos adversários jogou uma série de cartas na mesa e sem hesitar
gritou:
- FARROUPILHA!
O general
calmamente colocou as mãos em cima das mãos do adversário antes que este
retirasse o dinheiro da mesa e disse com inesperada e quase irônica calma:
- Companheiro,
desculpe-me, mas a jogada Farroupilha só vale uma vez na noite!
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